Lembro-me do final dos anos 1970. Eu trabalhava na perspectiva da educação popular e era muito difícil o processo do que na época chamávamos de conscientização (termo aliás bastante impreciso). Parte da dificuldade era o fato de as pessoas das camadas populares também expressarem valores, conceitos, visões de mundo que, longe de libertá-las, se constituíam em força de submissão: "A ideologia dominante é a ideologia da classe dominante". Em suma, percebíamos que organizar a esquerda era sempre caminhar na contra-mão, corrente acima. Não bastava denunciar uma injustiça e pronto. Era (e é) tudo muito complexo.
Hoje, quatro décadas depois, me preocupo quando vejo a direita tão presente e em tantos lugares e com tanta desenvoltura. Alguns acontecimentos podem ser atribuídos a minorias que de forma não organizada dão materialidade aos ventos do conservadorismo vigente. Mas a quantidade de ações não nos autoriza a tamanha ingenuidade. Digo que há sim organização (ou seria organizações?) que planejam e executam atos.
A direita é sempre burra e faz de sua estupidez uma arma que garante sua eficácia. Tem "poucos inimigos", a saber: comunistas (sempre eles), terroristas e socialistas. Mas pode ser outros, como gaysistas (o ista é fundamental), abortistas, ateístas que ganham o status de esquerdistas, enfim todos COMUNISTAS. Os petistas são apenas um disfarce para a grande conspiração... comunista!
Ódio, medo, irracionalidade, catastrofismo são ao mesmo tempo discurso para narrar a realidade e método de ação. Assim mesmo, simples na medida que é na mão certa da ideologia dominante. O ódio gerado pelas profundas desigualdades pode ser canalizado para o ódio àquelas que denunciam e querem mudar.
O medo gerado pela insegurança de uma vida sem esperança para a maioria de desvalidos pode aparecer como medo às transformações, estabelecendo um conservadorismo justamente daqueles que já se veem pendurados por um fio. A irracionalidade presente em um mundo em que se gasta dinheiro com armas que acabariam com a fome de todo o planeta vira conformismo de um mundo (naturalizado) que sempre foi assim e que só piora quando se tenta mudar. O catastrofismo vira a percepção de que o hoje é que é o mal e temos sim é que viver a nostalgia do passado ou mesmo retornar a ele, por exemplo pedindo a volta dos militares.
Reconhecer a existência, ao menos a iminência, da organização da direita fascista é condição para pensar a organização da resistência. Assistimos xingamentos em restaurantes e aeroportos, bonecos, cartazes e pichações intimidadoras, mas também bombas caseiras. Agora, vindo de um acampamento de gente que pede a volta da ditadura, provocações, socos e por fim tiros contra as mulheres que marchavam pedindo justamente o fim da violência.
Vamos esperar milícias sequestrando e executando pessoas para começar a nos defender?
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